"um café a desejar bom natal" foi o pretexto ideal para a sucessão de mentiras descaradas e sorrisos forçados que se seguiram...

- Mas tás bem?
- Estou! - (sorriso exagerado a reforçar a veracidade da resposta, caso o tom não tivesse sido convincente o suficiente) - ...e tu?
- Também. E gostas dele?
- Gosto. E tu, gostas dela?
- Gosto.
- Ainda bem.
- E como é que ele é?
- (riso) por acaso, acho que não ias gostar muito dele....
- Porquê?
- Porque ele, à primeira impressão...
- ...tem a mania?
- ...tem um bocado a mania, sim...
(olhas para o lado com cara de desiludido e um pouco zangado)
- Mas estás bem?
- Estou.
- Ainda bem...

...não consigo parar de pensar que somos as duas pessoas mais idiotas do mundo, ali sentados, a fingir descaradamente, a vermo-nos claramente através do fingimento um do outro, e a fingir que acreditavamos nele mesmo no meio das coisas que ficaram a pairar no ar, dos olhares que - querido - eu conheço de cor, no meio das conversas sobre os nossos novos namorados, que nós odiamos, secretamente... afinal, é natal.

Antes de sair do carro, em vez de um "bom natal" que afinal era o pretexto para tudo isto, vomitei um "manda cumprimentos à Carla...", um sorriso, um piscar de olho... e pronto.

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