Sabes aquela sensação, quando olhas para o teu joelho esfolado que magoaste anteontem quando tentavas andar na bicicleta nova sem rodinhas, e a crosta que cobre a tua ferida olha para ti, e tu olhas para ela: não consegues não olhar para ela!
Sentas-te no sofá a ver os desenhos animados, vais à rua com a mãe, fazes de tudo para resistir à vontade de a arrancar, tentas-te distrair com as tuas coisas preferidas mas ela volta-te sempre à cabeça. Até que chega a altura em que ela te apanha sozinha e o transe criado pela ausência de qualquer dor no joelho fica mais forte. É aí que te deixas acreditar no que queres, convences-te a ti própria de que já estás sarada, e ignoras a voz na tua cabeça que te enumera todas as consequências de cederes: só para, debaixo daquela mancha feia, dura e escura que te estava a proteger, descobrires a ferida que fizeste anteontem, em carne viva ainda a latejar.
Sabes essa sensação? Tenta restringi-la ao teu joelho.
1 comentário:
texto muito bom...como pegaste numa coisa tao tipica como o episodio "da crosta" e o transformas.t numa sensaçãao muito maior e abrangente. Os outros posts tb estao muito bons, mas este chamou.m a atençao.
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